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Decadência dos empresários dekasseguis

26 jul 2013 às 04:30
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Dekassegui é aquele que sai de sua terra natal em busca de melhores condições de vida. Aqui no Japão já estiveram mais de 300 mil brasileiros dekasseguis. Atualmente existem bem menos e eu sou um deles.
Estive por esses dias visitando alguns lugares onde tempos atrás havia uma grande concentração de brasileiros dekasseguis. Estive na cidade de Gunma, Hamamatsu, Nagoya, Toyohashi, Okazaki, Kariya, Chiryu, Minokamo, Komaki, Yokkaichi e Suzuka. Esses locais abrigam grandes indústrias, razão de contarem com tantos trabalhadores braçais.
Nesses pouco mais de vintes anos da "era dekassegui", muito ganharam o seu dinheiro e foram tentar uma vida nova de volta ao Brasil. Lá eles investiram em pequenos supermercados, lojas de autopeças, floriculturas, padarias, pousadas no litoral e em algum ramo da agricultura. Outros tentaram a sorte por aqui abrindo lojas de produtos brasileiros que tanto sucesso fizeram no auge do movimento. Havia de tudo: calças de griffes brasileiras, calcinhas que melhor se adaptavam a um corpo mais arredondado, CDs e DVDs em português, restaurantes e churrascarias, comércio de carros usados, botecos com salgadinhos, pastelarias, fábricas de coxinhas, indústria de embutidos e congelados e padarias. Isso sem falar nas consultorias que ajudavam aos desavisados renovar o visto, solicitar uma procuração, alugar um imóvel, declarar o imposto de renda e realizar a mudança de uma cidade para outra. Até escolas que iam do pré até o segundo grau, vejam só. Academias de ginásticas, cabelereiras e escolinhas de futebol também faziam parte do empresariado. Alguns investiram alto, pediram dinheiro aos bancos, adquiriam dívidas, pensando que tudo isso nunca fosse terminar.
Enquanto aqueles com espírito empreendedor viraram "empresários", outros continuavam no chão das fábricas ganhando por hora e cumprindo longas jornadas diárias. O tempo foi passando e de repente, como se do nada, começaram as famosas divisões de classes sociais, tão conhecidos dos brasileiros. Eram os donos dos próprios negócios de um lado e os operários do outro. A divisão era nítida, pois enquanto uns vestiam terno ou uma roupa mais bacana, muitos estavam sempre sujos de graxa e com os cabelos desalinhados. Enquanto uns andavam de carrões, muitos se deslocavam de bicicletas. Enquanto uns organizavam festinhas para comemorarem qualquer coisa, muitos se limitavam aos poucos lazeres como um churrasquinho a beira de um rio.
Nas cidades que visitei, os empresários foram quase que completamente eliminados pela crise econômica que assolou o mundo em 2008 e atingiu o Japão em cheio. Soube que houve algumas tentativas de sobrevivência com as pessoas mudando o foco dos seus serviços, mas parece que nada deu mais certo.
Hoje, os poucos que sobrevivem se limitam a oferecer o básico que vai do feijão, lentilhas e grãos similares, algumas variedades de carnes trazidas da Austrália, salgadinhos congelados, algumas peças de roupas, biquínis e sorvetes de frutas tropicais. Calças compridas de griffes, churrascarias, assessorias para renovação de vistos, etc. sumiram do mercado. As vendas de produtos eletrônicos em português como computadores e filmadoras desapareceram por completo.
Muitos desses empresários voltaram a trabalhar nas fábricas já que tinham bons trânsitos nas respectivas cidades, falavam japonês com desenvoltura e não queriam retornar ao Brasil para começar do zero.
A euforia terminou faz um bom tempo e não dá sinais de que voltará.

Saudades do Japão

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