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Suborno mal explicado

25 jan 2014 às 12:01
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Naoki Inose ganhou as eleições para ser o governador de Tóquio em 2012 com apoio de políticos influentes e com 65% dos votos. Uma vitória tranqüila.
Escritor renomado, foi o líder da comitiva que trabalhou para trazer as Olimpíadas de 2020 para o país. Teve a brilhante idéia de compor sua equipe com colaboradores de diversas áreas como: jornalistas, atletas olímpicos e paraolímpicos, apresentadores de TV, diretores de empresas esportivas renomadas, o primeiro ministro Shinzo Abe e até uma integrante da realeza japonesa. Todos fluentes em inglês ou francês. A apresentação perante os membros do COI foi impecável, cativando o pessoal com direito aos votos. Um intenso "lobby" nos saguões dos hotéis também foi realizado, fugindo das características japonesas, mas com excelente resultado prático.
Passados alguns dias da euforia por ter conseguido trazer as Olimpíadas para Tóquio, veio à tona que Inose havia recebido 50 milhões de ienes (1.1 milhões de reais) durante sua campanha política. Ajuda proibida por lei e severamente analisados pelos partidos políticos. O dinheiro veio através de Takeshi Tokuda, diretor da maior empresa privada de instalações hospitalares e político também. Como o Japão é o país com o maior número de idosos do mundo, dá para ter uma idéia de como ficam abarrotados os hospitais e o movimento de dinheiro em torno da saúde.
Chamado para explicar o recebimento do dinheiro, ele se enrolou todo. Disse que recebeu tudo em espécie dentro de uma sacola e colocou no cofre. Teve a coragem de dizer que esses milhões era um empréstimo particular para pagar despesas médicas de sua esposa. Chamado para apresentar algum comprovante que provasse que o dinheiro era realmente um empréstimo, trouxe um recibo fajuta que mais parecia uma folha suja de papel de pão.
Sem escapatória e com a desculpa de que não queria obstruir os preparativos para as Olimpíadas com os seus problemas, pediu a renúncia.
Um dia desses apareceu falando que devolveu todo o dinheiro sem gastar um tostão, o que foi desmentido no outro dia por um amigo que não sabia que Inose havia dado a entrevista. O amigo disse que ele próprio havia retirado 5 milhões de ienes para algumas despesas. Flagrado mais uma vez na mentira, Inose saiu do ar com o rabo entre as pernas.
Vendo todas essas cenas por semanas seguidas, me veio à lembrança de que em algum momento, antes mesmo de vir ao Japão, eu já havia presenciado coisas parecidas num eterno país do futuro. Mesmo calejado, senti vergonha pelo suborno mal explicado e pelas mentiras descaradas. Definitivamente, país desenvolvido não significa pessoas desenvolvidas.

Renúncia de Inose

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