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Bird Box - confira a análise de psicoterapeuta

28 jan 2019 às 08:18
- Reprodução/Netflix
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O filme Bird Box, da Netflix (2018), ganhou bastante popularidade, movimentando as conversas nas redes sociais. Basedo no livro homônimo, conta a história assustadora de seres que não se sabe o que são, mas espalham puro terror entre as pessoas levando-as ao suicídio. Quem vê estas criaturas fica imediatamente enlouquecido e procura se machucar com tanta intensidade que o resultado é fatal. Este terror foi se espalhando pelo mundo inteiro, tal qual uma praga, e ceifando inúmeras vidas. Ninguém sabia o que fazer para combater o mal e só sobreviveram os que ficaram dentro de casas com janelas tampadas (sem nenhuma visão) ou que saiam às ruas com vendas nos olhos.

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As pessoas precisavam resistir à tentação de olhar, de retirar as vendas. Quem olhasse estava condenado. Os sobreviventes ficavam, então, sob uma pressão e alerta muito grandes para não correrem riscos de olhar o que não podiam, o que não eram capazes de tolerar. Bird Box, em inglês, significa "caixa de pássaros" e a história tem esse nome porque as pessoas se valiam de caixas e gaiolas com aves, pois elas pareciam ser capazes de perceber, com certa antecedência, a presença destas criaturas que levavam à loucura. Batendo as asas assustadas elas avisavam os humanos que estavam em perigo, tornando possível se proteger.

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As criaturas não ofereciam nenhum outro tipo de perigo, ou seja, não atacavam, não derrubavam, não mordiam, não tiravam as vendas de ninguém. Elas só não podiam ser vistas. Como aquilo que é proibido é sempre tentador, se segurar para não olhar era tão assustador quanto as consequências de olhar e enlouquecer. No filme, algumas pessoas até conseguiam ver os seres e não enlouquecer imediatamente, mas enlouqueciam aos poucos e violentamente obrigavam os sobreviventes a olhar para aquilo que os levaria à morte.

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Penso que este filme fez sucesso porque mexe com coisas internas de nossa mente, sobre verdades psíquicas. A psicanálise nos oferece uma chance de entender outros sentidos que não apenas aqueles que estão escancarados, mas de encontrar outros significados que subjazem nas entrelinhas. Psicanaliticamente, podemos pensar que todos carregamos "criaturas" dentro de nós que, se vistas de qualquer maneira, sem cuidado ou preservação, podem nos enlouquecer. Há dentro de cada um de nós um potencial para a destruição própria e dos outros. Se não resistimos e nos entregamos à loucura o final será sempre trágico.


O mundo que vivemos está simbolicamente - e, em alguns casos, até literalmente - como o mundo que é mostrado no filme: caótico, cheio de gente enlouquecida, cheio de riscos se propagando sem que percebamos. Não conseguimos resistir e nos entregamos ao que há de pior em nós. A caixa de pássaros que os personagens usavam sugere seguir mais a intuição, a "natureza" interna, para nos preservarmos dos perigos. Estamos perdendo contato com essa caixa de pássaros simbólica, que é a consciência de nossas emoções e sentimentos que nos permite andar por esse mundo louco com certa segurança. É também tolerar aquilo tudo que nos bestializa sem que precisemos nos bestializar. Em resumo, é não soltar a venda e olhar para aquilo que nos pode destruir.

O filósofo Nietzsche escreveu: "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você". O que precisamos é aprender a lidar com os nossos monstros internos sem nos deixarmos influenciar por eles, sem enlouquecer junto com eles. O filme mexe conosco porque nos convida a lidar, de maneira eficiente, com o terrível dentro de nós, de forma que nos permita sobreviver até chegar um momento onde possamos olhar sem medo de que algo sinistro nos olhe de volta.


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