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Problema mundial

Pandemia eleva denúncias de violência doméstica na Europa

Ana Estela de Sousa Pinto - Folhapress
17 abr 2020 às 10:31
- Reprodução/Pixabay
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"Mamãe, diz que está feliz, senão o papai fica bravo", pediu Lorena, 6. A menina e sua mãe são vítimas de uma epidemia que não é de coronavírus, mas provocada por ele: a de violência doméstica (os nomes são fictícios).

Medidas impostas pelo governo para combater a doença criaram uma verdadeira panela de pressão, descreve Talitha Vaz, que coordena a seção portuguesa da Revibra, entidade de apoio a brasileiras vítimas de violência na Europa.

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De um dia para o outro, foram potencializados todos os ingredientes de um problema que não é novo nem limitado: 33% das mulheres europeias já sofreram violência física ou sexual, indicam pesquisas.

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Frustração e insegurança econômica, que costumam levar a episódios de agressão, cresceram com a paralisação da economia. Imobilidade e tédio elevaram o consumo de álcool, outro motor.

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O confinamento prendeu agressores e vítimas num mesmo espaço, por vezes estreito, 24 horas por dia. De quebra, dificultou denúncias que precisavam ser feitas por telefone. Quando havia alternativa, albergues lotados fechavam as portas. "As mulheres se viram presas no lugar onde estão menos seguras: suas próprias casas", alertou um comunicado da ONU.


O efeito foi o de um catalisador, diz Juliana Santos Wahlgren, que fundou a Revibra e atua na Bélgica. Antes da pandemia, os casos progrediam lentamente, de violência psicológica, para financeira, administrativa, até chegar à física.

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"As mulheres não nos procuram mais porque começam a se sentir torturadas; elas já foram agredidas, e muitas vezes suas crianças também".


No primeiro mês de quarentena, a Revibra atendeu a 22 desses casos, quase o dobro dos 12 registrados no mês anterior nos oito países em que atua (Portugal, Bélgica, Alemanha, França, Holanda, Itália, Luxemburgo e Reino Unido).

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Não é uma medida estatística, mas reforça a tendência apontada pela polícia francesa (crescimento de 30% nas queixas), pelo governo espanhol (18% mais ligações nas duas primeiras semanas de quarentena) e pelo continente todo.


E fora da Europa também, diz a eurodeputada tcheca Radka Maxová, uma das nove que na semana passada pediram um plano de emergência ao Poder Executivo da UE.

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As parlamentares querem que a Comissão Europeia incentive governos a reforçarem os serviços de atendimento e de abrigos, onde a espera por uma vaga pode levar semanas, como aconteceu com Carol e suas filhas, no Reino Unido.


Antes da pandemia, ela pediu alojamento para escapar dos maus-tratos do marido. Quando a resposta chegou, as assistentes sociais disseram que o risco de contágio estava alto e que ela deveria "aguentar um pouco mais em casa".

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Políticos e ativistas também afirmam que os telefones de socorro não são mais a melhor opção para as vítimas. "Com a dificuldade de fazer ligações, as denúncias ficaram represadas", afirma a eurodeputada holandesa Samira Rafaela.


Foi o que aconteceu na Itália, primeiro país a adotar o confinamento, no início de março. O número de chamadas teve queda abrupta. A alternativa foi um aplicativo que funciona 24 horas. Em Portugal, foi criado um SMS apenas para casos durante a pandemia.

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"Em cinco dias, foram 41 pedidos de ajuda, mais que todos os outros serviços somados", conta Talitha. Na Espanha, uma senha secreta permite pedir ajuda nas farmácias, e na França foram abertos 20 "centros de aconselhamento pop-up" em mercados, para que as mulheres possam pedir ajuda ao fazerem compras.


Com essas válvulas de escape, as denúncias subiram mais de um terço, diz a europedutada espanhola Soraya Rodríguez. O governo português abriu cem vagas em abrigos, "insuficientes para tanta demanda", segundo Talitha.


Para Amarsanaa Darisuren, principal conselheira de assuntos de gênero da Organização para Segurança e Cooperação na Europa, nem sempre é fácil prever uma crise, "por isso é importante adotar planos de contingência".


Segundo ela, neste período as medidas mais importantes são as que oferecem ajuda imediata: socorro policial, aconselhamento jurídico, cuidado de saúde, apoio psicológico e serviço social. Por outro lado, é preciso garantir que a Justiça puna os agressores, diz a eurodeputada Radka, e treinar polícia, equipe médica, juízes e promotores, "para prevenir dupla vitimização".


Foi o que aconteceu com Petra, mãe de um bebê de 11 meses na Bélgica. Quando os casos de coronavírus começaram a crescer, a Justiça proibiu que sua filha (que ela ainda amamenta) ficasse no abrigo. A criança passou a morar com o pai, obrigando Petra a conviver com seu agressor.

Marcia Baratto, da seção alemã da Revibra, e a fundadora da organização apontam essa situação como uma dupla violência, do indivíduo e do Estado. "O isolamento da vítima de violência sempre ocorreu, mas era invisível. Com o confinamento, acendeu-se um holofote sobre ele", diz Talitha.


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