Parece óbvio, mas cada detalhe do projeto de arquitetura de interiores deve seguir os gostos e, acima de tudo, a personalidade dos moradores. Afinal, as pessoas precisam sentir que a casa é o seu lar e os ambientes devem refletir, por meio das escolhas, suas histórias, lembranças e o estilo. Assim, a seleção do mobiliário e dos itens decorativos carregam a missão de representar o senso de pertencimento e a tão esperada sensação de aconchego.

Nesse sentido, o emprego de cores vibrantes tem o poder de transformar, combinando com personalidades marcantes. Porém, antes de sair colocando esses tons em todos os lugares, é importante ter algumas questões em mente. "As tonalidades se equilibram? De que forma? Existem outras cores no espaço? O que o morador quer transmitir? A intenção é destacar ou camuflar?”, são algumas listadas pela arquiteta Cristiane Schiavoni, à frente do escritório que leva o seu nome.

Antes de especificar essas tonalidades em projetos, a profissional afirma que passa pela etapa de conhecer muito bem os seus clientes. "No dia a dia vou percebendo as preferências dos futuros moradores. Nas projeções 3D insiro algumas cores e observo as reações. É essencial compreender o jeito de cada um”, explica.

Porém como conseguir o equilíbrio? A resposta pode parecer complicada, mas com a utilização do círculo cromático tudo fica mais simples. Ele apresenta 12 cores dispostas lado a lado e divididas seguindo a tonalidade. A classificação mostra como podem ser misturadas: cores primárias, secundárias, terciárias, análogas, complementares, frias e quentes, neutras e monocromia. "O material está disponível na internet e pode ser consultado na hora de escolher os elementos”, diz Cristiane Schiavoni.

Outra técnica para balancear é usar componentes que, muitas vezes, são considerados neutros como madeira, tecidos e até mesmo o branco. Esse último, dependendo da situação, funcionará mais como um meio de destacar os tons vibrantes do que os suavizar.

Dessa forma, se o objetivo é ousar nas tonalidades, sem esquecer da harmonia no cômodo, a arquiteta reuniu inspirações de seus projetos para ajudar nessa missão. Confira a seguir:

1) Quarto azul
Apesar de ser uma cor de bastante originalidade, o azul é associado à calma e tranquilidade, encaixando perfeitamente em um dormitório. Assim, ao observar o modo animado dos moradores, a profissional escolheu usá-lo em quase todas as paredes. Os quadros, a cortina, a estrutura de metal da cabeceira, o cinza e a madeira no banheiro foram empregados como forma de dosar a intensidade da cor.

2) Sala de estar com toques de amarelo

A sala de estar pertence aos mesmos moradores do quarto azul. "É interessante ressaltar que os elementos amarelos desse ambiente já pertenciam ao casal, que nos trouxe a possibilidade de compor a partir deles”, conta a profissional. Para destacar, uma base neutra com cimento queimado, tijolinhos e cinza foi a melhor opção. Os tons combinados realçaram a integração do projeto.

3) Sofá vermelho

Os quadros pertenciam à moradora, porém estavam espalhados pela sala de estar. Além disso, apesar de ser uma casa em um estilo clássico, a profissional percebeu o jeito marcante da cliente. Portanto, para enaltecer esse lado animado, foi criado uma exposição com todas as obras de arte na mesma parede.

Nesse sentido, o sofá vermelho faz parte do painel, acrescentando alguns toques sutis de verde e roxo. Os demais itens são neutros, criando um fundo ideal para a composição.

4) Geladeira amarela

Após a cliente ter comprado a geladeira errada, a arquiteta resolveu o problema propondo usar pontos de amarelo na peça e no nicho ao lado. A solução coube perfeitamente no ambiente com predomínio do cinza. "O amarelo chegou para trazer alegria para o local onde os alimentos são preparados. A cozinha demanda cores mais vibrantes, animando os dias”, conta a profissional.

5) Obras de arte

Nesse projeto, a arquiteta percebeu, desde o início, que os moradores eram apaixonados pelas cores, afinal o sofá azul foi comprado por eles. "A ideia principal foi trazer esse estilo, equilibrando as tonalidades de azul, amarelo e verde”, conta. A escultura da artista plástica Rosana Ciotta e o tapete entraram na composição, tendo o móvel como protagonista.

Nesse caso, as paredes foram pintadas em um tom neutro, porém isso não é uma regra. É possível misturar cores vibrantes em um mesmo ambiente, sem ficar incômodo. Se for usar o branco, por exemplo, é importante entender que ele tem a função de destacar ainda mais o elemento colorido. Logo, se a intenção for diminuir a intensidade, o recomendado é escolher tonalidades próximas e colocá-las lado a lado.

6) O roxo toma conta

A decoração dessa sala de estar teve como principal inspiração o painel ao fundo que traz uma foto significativa para a proprietária. Dessa forma, o mesmo roxo da imagem foi usado para as cadeiras ao centro. No projeto, o branco foi escolhido para realçar o tom forte.

7) Combinação clássica

Apesar de ser uma cor clássica, o preto ainda assusta algumas pessoas. Nesse banheiro, a proposta foi trazer elegância e sofisticação, entretanto, a tonalidade também pode estar em projetos mais modernos. O preto marmorizado foi aplicado na parede, contrapondo com o branco. A combinação transformou a atmosfera, complementado pelo armário em grafite.

8) Cozinha vermelha

Partindo do piso de granito preto, Cristiane Schiavoni criou uma proposta arrojada. Assim, nasceu o projeto de uma cozinha retrô, reforçada pelos armários em vermelho coral. O aspecto forte da moradora ainda foi reforçada nos pendentes em amarelo e nas cadeiras padronizadas.

"Quando falamos de cores vibrantes e decoração com personalidade, é essencial seguir seu estilo, sem esquecer da harmonia cromática nos ambientes. Eu sempre digo que não existe feio ou bonito, brega ou chique, mas sim projeto coerente ou incoerente”, finaliza a profissional.