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Absurdo

Casal denuncia grupos que incentivam necrofilia em redes sociais e WhatsApp

Camila Appel - Folhapress
26 set 2020 às 16:12
- Pixabay
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Acostumados a ouvir comentários alheios sobre a aparência de alguns cadáveres, o casal de tanatopraxistas e diretores funerários Nina Maluf e Vinicius Cunha se chocou com dois casos recentes.


"Escutei, na funerária onde eu trabalhava, homens falando sobre uma menina de 24 anos que tinha morrido por suicídio. 'Toda depilada, nossa que peitão, baita de uma gostosa'. Fiquei tão irritada que botei todo mundo para fora. Fiquei sozinha preparando o corpo dela", diz Nina.

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Ela se apresentou ao viúvo, que havia escutado comentários semelhantes no IML (Instituto Médico Legal). "Quando eu disse que eu iria cuidar do corpo dela, ele ficou aliviado."

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Vinícius tem relato pior. "Já vi colegas que se depararam com esse tipo de corpo, jovem e bonito, e tiveram excitação. Mesmo com uma moça com a face desfigurada do acidente de carro, um deles foi ao banheiro. Aquilo foi a gota d'água."

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O incômodo levou os dois a investigarem o tema e descobrirem grupos específicos que funcionam pelo WhatsApp e pelo Facebook em que se incentiva a necrofilia -termo que descreve, em psiquiatria, a excitação por uma visão ou contato com um cadáver.


Encontraram fotos de mulheres bonitas, mortas, e travestis, com piadas e comentários de mau gosto. "Olha essa bundinha, olha esse peitinho, poxa isso a gente não tem em casa."

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Em um deles, chamado "Festa no IML", que Nina acompanha desde 2019, diversas postagens sugeriam e incentivavam a necrofilia. "Eles divulgam fotos e vídeos de partes de mulheres mortas feitas dentro do IML e de funerárias. A mulher é abusada até na morte."


Cada uma dessas publicações tem até 300 curtidas -o grupo tem alguns milhares de integrantes. "Quanto mais explícito e violento for, mais likes tem", lamenta.

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Há 20 dias, ela saiu do grupo e encaminhou o conteúdo, que imprimira, ao Ministério Público e à Polícia Federal. A acusação, com partes do conteúdo, tem circulado em redes sociais desde então. Relatos semelhantes aos de Nina e Vinícius por outros profissionais se avolumaram.


"Dá medo, ficamos apreensivos de sofrer represália porque não sabemos com quem estamos lidando", diz Vinícius. "Quem faz isso é capaz de qualquer atitude. Não temos apoio formal porque não existe representação legal de agentes funerários no país."

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Apesar do receio, os dois consideraram fundamental falar do assunto. "Eu não consigo me adaptar mais a nenhuma funerária, porque em todas ocorre isso. As pessoas querem maquiar, colocar debaixo da mesa e fingir que isso não existe. Vivemos com esse nó na garganta, mas chegou a hora de falar."


O grupo foi retirado do ar, mas a circulação desse tipo de material, sobretudo por WhatsApp, é mais difícil de deter.

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Há relatos que sugerem a prática desde o Egito Antigo. O historiador grego Heródoto (485 a.C "" 425 a.C) descreve em "Histórias" que, para desencorajar relações com cadáveres, os egípcios antigos deixavam as mulheres bonitas decomporem por dois a quatro dias, antes de entregá-las ao tanatopraxistas –preparadores de cadáveres.


O Código Penal prevê o crime de vilipêndio de cadáver, com punição entre um e três anos de prisão, além de multa.

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"É crime ter qualquer atitude que signifique desrespeito, agressão ou violação com cadáveres", diz a advogada criminalista Luiza Eluf. "Se violar mais de um cadáver, a pena acumula."


Se o fato ocorre dentro de uma funerária, pode se enquadrar no crime "violação ou profanação de sepultura ou funerária", artigo 210 do Código Penal, também com pena prevista de um a três anos e multa.


Como a necrofilia é uma patologia, um distúrbio mental, os agentes desse tipo de crime podem seguir para uma medida de segurança, como internamento para tratamento psiquiátrico.


Segundo o psiquiatra Gabriel Becher esse tipo de atitude está no grupo das parafilias. "São vivências recorrentes e preferenciais voltados ao que a gente chama de objeto não convencional, que são os não humanos, não adultos e não vivos."

Becher, que faz parte da supervisão de um ambulatório de psiquiatria, ProSex, Grupo de Estudos no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, diz que os casos de necrofilia são raros nos âmbitos midiático, acadêmico e clínico. "Se a gente tem um, dois casos por ano é muito. Fica no underground, nesses grupos específicos, deep web", diz.


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