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Entrevista

Nós vemos exemplos do próprio negro sendo racista, na cara da gente, diz Elza Soares

Denise Mota - Folhapress
08 mar 2021 às 15:05
- Reprodução/Instagram
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Há quase um ano, desde o início da pandemia da Covid-19 no Brasil, Elza Soares tem no seu novo normal, todos os dias, um companheiro infalível –o mar de Copacabana, parte da rotina ao lado de um bom café, de exercícios e das redes sociais, que adora.


Elza Soares são muitas. E neste momento todas elas não param. A compositora bota fé que vai emplacar o samba da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola do seu coração, no próximo Carnaval.

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A intérprete acaba de lançar sua versão de "Nós", composição de Tião Carvalho, acompanhada de um clipe, em homenagem às mulheres neste 8 de março. E, em corpo e voz, a artista também mostra sua força na televisão, nesta segunda-feira (8) à noite, no especial Falas Femininas, na Globo.

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No programa –que retrata o cotidiano de cinco brasileiras–, Elza interpreta a canção "O que se Cala" e dá seu depoimento sobre ser mulher nos dias atuais.

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Aos 90 anos, a musa da voz, emblema de superação, embala esses muitos projetos junto a assessores, parentes e amigos –virtual ou presencialmente–, ao som do vaivém das ondas que contempla da varanda do seu apartamento. Nem o coronavírus nem as oscilações de um outro marulhar, mais turbulento –o de um Brasil que ela conhece bem–, tiram seu humor.


"Meu dia a dia é gozado. Eu me levanto cedo, para pegar sol, tomo meu café, vejo o mar de Copacabana –é minha paixão. E você sabe que o artista funciona na parte da tarde... Na parte da manhã é difícil funcionar, meu Deus!", se diverte. "E assim eu vou passando meu dia a dia, faço o meu exercício, minha fisioterapia. Eu amo rede social, adoro."

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Nas suas contas de Twitter e Instagram, por exemplo, Elza comenta de tudo um pouco, da campanha de vacinação contra a Covid-19 –ela acaba de receber a segunda dose– a episódios do Big Brother Brasil, das séries a que está assistindo a imagens de aglomeração que a deixam preocupada.


Seu papel como referência na luta antirracista e feminista está sempre presente. "A gente está vendo o próprio negro sendo racista. A gente está vendo exemplos na cara da gente", afirma, em entrevista à reportagem. "E as mulheres... continuem denunciando: 180, por favor. Você, que é vizinho, meta a colher mesmo, grite, ajude a gritar."

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A quarentena presenteou a cantora com um impulso criativo que a devolve, uma vez mais, ao barracão da Mocidade Independente de Padre Miguel, parte essencial de sua história. Pela agremiação da estrela verde, ela foi homenageada, no ano passado, com o samba "Elza Deusa Soares", e destaque de várias formas e em muitas ocasiões.


Desta vez, e novamente, participa como compositora de um dos sambas-enredo concorrentes ao próximo Carnaval da escola, "Sou a Mocidade de Oxóssi", ao lado dos compositores Ricardo Simpatia, Dr. Castilho, Guto Biral, Bachini, Pedro Loureiro, Carlitos Baiano e Rafael Lima.

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A composição –que tem entre outras competidoras canções de autores como Carlinhos Brown, Marcelo D2 e Sandra de Sá, em uma homenagem a Oxóssi, orixá da caça, da prosperidade e do conhecimento– vem deixando Elza empolgada com as suas chances no barracão.


"Amo muito a Mocidade, e sei que me amam também. É fácil falar do que a gente ama. Estou com meu samba aí e acho que vou ganhar, não sei, não... Vamos nós, vamos ver!"

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Assim como nas redes sociais, no seu dia a dia profissional e em casa, na entrevista reproduzida abaixo a artista também fala de tudo um pouco, mas estabelece um único princípio fundamental: nada de"senhora", pronome de tratamento do qual não gosta.


Afinada à sintonia em "você", o papo flui, apaixonado e suave por momentos; rascante e incisivo, em outros –como o scat que caracteriza a mulher que, em 1999, foi eleita a "cantora do milênio" pela rádio BBC, de Londres.

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- Ainda no início da quarentena, em abril passado você dizia: "Não é mole sambar com a incerteza". Quase um ano depois, que estratégias vem utilizando para o dia a dia?


Elza Soares - É um dia após o outro, minha gente, vamos nos manter vivos. Amando sempre e seguindo a vida, a vida é isso. Vamos nos cuidar. Lavando as mãos, usando máscara, e tem que ter vacina, não pode ser de outro jeito. Vacina, sim. Tem que ter vacina, por favor. Eu acho que o mundo está doente, precisamos nos cuidar. E cuidar uns dos outros. A vida vai por aí, as coisas têm que ser feitas de maneira séria, isso não é brincadeira, é sério.


- Como foi o seu Carnaval sem Carnaval?


ES - Fiquei em casa tranquila, assistindo a minha família, como sempre. Sou muito tranquila, não gosto de muita folia, não. Gosto mais de ficar dentro de casa. Vamos ficar em casa, gente. Vamos respeitar. Tudo vai passar. Tudo passa. O bom passa, o ruim passa também.


- Oxóssi é o homenageado do samba que compôs com outros autores para a Mocidade Independente de Padre Miguel. Se fosse um orixá, que bênçãos daria aos seus filhos?


ES - Difícil, né? Mas acho que eu daria amor, porque a gente, quando se ama, ama o próximo. Será que esse não seria o caminho?


- Há poucos dias, você já tomou as duas doses da vacina...


ES - Tomei, fiquei aliviada. Foi muito bom porque a gente fica livre. Agora vou ficar feliz quando eu olhar todo o mundo tomando vacina também, todo o mundo livre dessa coisa horrível.


- Você costuma dizer que não se vê como uma estrela, mas sim como uma trabalhadora da arte. Acha que tem uma missão?


ES - Eu acho o seguinte: se você pode ajudar alguém, se você tem o direito, o poder de ajudar alguém, dê a mão, vamos sair por aí, vamos caminhar juntos. Tudo acontece quando estamos juntos uns dos outros, e aí tudo acontece maravilhosamente bem.


Meu nome é agora. Eu acredito que para fazer o bem tem que fazer o bem hoje, não deixar para amanhã o que pode fazer hoje. Faça já. Eu faço meu bem agora, não deixo para depois. Eu não sei o que será de mim depois, o que será do outro lado, não tenho certeza.


- Como vê o momento que o Brasil está vivendo?


ES - Tudo passa. Isso vai passar. Se nós nos mantivermos firmes, vai passar. E passamos bem à beça, é se manter firme. Não quero falar nada de política, quanto à cultura, a gente vai sobreviver.


- Na Virada Sustentável, em São Paulo, em setembro, você disse que era seu dever fazer a defesa da mulher e da raça negra. Vê avanços da sociedade brasileira nesse sentido?


ES - Não é só no nosso país não, é no mundo. A mulher, a raça negra, têm muito o que lutar ainda, têm muita caminhada a fazer. A gente está vendo o próprio negro sendo racista. A gente está vendo exemplos na cara da gente, mostrando para a gente.


É a luta. Ainda há muito para caminhar, não é fácil, não. A caminhada continua começando agora, parece que começou agora e não termina. Vamos caminhar juntos, vamos dar a mãos. Vambora. E as mulheres... Continuem denunciando: 180, por favor. Você, que é vizinho, meta a colher mesmo, grite, ajude a gritar, 180, por favor, denuncie.


- Como lida com as agressões que chegam pelas redes sociais?


ES - Eu acompanho as redes sociais, fico observando. O que tiver de responder, eu respondo. O que tiver de falar, eu falo. Até porque, gente, vivemos em uma democracia, viu?


- "A vida é um susto", você disse ao jornal Folha de S.Paulo há 20 anos. Esta pandemia vem sendo um susto para que a humanidade aprenda algo?

ES - Será que as pessoas estão aprendendo, meu Deus? Tendo mãe, avô, dentro de casa? Será que estão aprendendo isso? Estão aprendendo como? Fazendo festa, comemorando Carnaval? Estão aprendendo como? Onde? Não vejo ninguém aprender com isso, não.


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