No corpo desnaturalizado, a solidão coletiva dos homens que já preferem não ver. O espetáculo Cegos, do Desvio Coletivo (São Paulo – SP), uma das atrações desta segunda-feira (5) no Festival de Dança de Londrina, aborda o empobrecimento da experiência humana e o aprisionamento da vida moderna, em uma performance urbana de alto impacto visual. A aliança entre a coreografia lenta, o uso de quase 340 quilos de argila sobre os participantes (vendados) e o cenário urbano real compõem um conjunto poderoso, que impõe a crítica sobre o cotidiano massificado da cidade diante de uma realidade de brutalidades reais ou simbólicas.
Tendo no currículo uma multidão de participantes e espectadores nas mais de 30 cidades onde a intervenção ocorreu, no Brasil e no exterior, "Cegos" investe no estranhamento como principal ferramenta para intervir poeticamente na rotina urbana. Tudo isso aliado a atrativo extra: o público participa junto dos integrantes do Desvio Coletivo da performance. Este elenco que se integra ao grupo paulistano passou por oficina de dois dias com Marcos Bulhões e Priscilla Toscano, codiretores do espetáculo. Durante o curso, eles conduziram uma série de jogos performativos com o objetivo de levantar possibilidades simbólicas e de conceber uma coralidade durante a realização de "Cegos" em Londrina. Os locais e trajetos a serem percorridos também foram definidos em conjunto com os participantes e com a organização do Festival, e divulgados só na noite de domingo (4).
Nesta segunda-feira, a performance começa às 11h45 na praça do Centro Cívico, onde encontra-se o prédio da Prefeitura, da Câmara e do Fórum. Em seguida, por volta das 13h30, o coro de "Cegos" dirige-se para a frente do Núcleo Regional de Educação, que fica na Av. Maringá, 290 (Jd. Dom Bosco). Por fim, o grupo desembarca na Av. Rio de Janeiro, em frente à Biblioteca Pública, e caminha até o Calçadão, passando em frente à Catedral. A dispersão acontece na própria Av. Paraná por volta das 15 horas.
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Ao longo do percurso, o coro reserva uma série de surpresas – movimentos, acenos e objetos manuseados - que tem relação específica com os temas que mobilizam o Festival de Dança de Londrina neste ano, como a crise institucional, a violência (física e ideológica) de estado e as afrontas do poder.
O grupo - A montagem é uma criação do Grupo de Teatro, Performance e Intervenção Urbana Desvio Coletivo (em parceria com o Laboratório de Práticas Performativas da USP), que congrega mais de vinte artistas de diferentes áreas, visando ao desenvolvimento de espetáculos performativos e relacionais, muitas vezes com emprego de instalações cênicas/multimídia, performances em espaços específicos (site specific), acontecimentos (hapennings), ações na Internet e experimentos videográficos.