O Flamengo anunciou nesta sexta-feira (31) a contratação do técnico Domènec Torrent, 58, que chega para substituir o português multicampeão Jorge Jesus. Ex-auxiliar de Pep Guardiola no Barcelona (ESP), no Bayern de Munique (ALE) e no Manchester City (ING), Torrent teve sua última experiência no futebol como treinador principal do New York City (EUA), da Major League Soccer, cargo que ocupou de 2018 a 2019.
O catalão, nascido na província de Girona, sabia desde o início das negociações que não era a primeira opção da diretoria rubro-negra, mas o alvo principal do clube, o português Carlos Carvalhal, optou por seguir na Europa e assinou com o Braga (POR). Domènec Torrent é sócio e torcedor do Barcelona. Em 1992, ele viajou a Londres e assistiu no estádio de Wembley à vitória do Barça diante da Sampdoria (ITA), na final da Champions League, primeiro título da equipe na principal competição europeia.
Da arquibancada, admirava o jogo de Pep Guardiola, meio-campista daquele time, mas gostava ainda mais do treinador Johan Cruyff. Foi o jogo praticado pelo holandês no chamado "Dream Team" do Barcelona que inspirou Torrent a virar treinador. Essa influência, inclusive, já foi citada pelo lateral direito Rafinha, que trabalhou com o catalão no Bayern de Munique e voltará a ser comandado por ele. Ex-meio-campista de times amadores da Espanha, Torrent iniciou sua trajetória como técnico comandando equipes de categorias de base em clubes da Catalunha.
Leia mais:
Quem são os favoritos de Dorival na nova era da seleção brasileira
Renovação de Arboleda trava após ficar 'por detalhes'
Santos breca busca por reforços e prioriza solução contra novo transfer ban
Rivais do Corinthians na Sula vivem má fase em campo e polêmicas fora dele
Seu primeiro trabalho que chamou mais atenção foi quando treinou o time principal do Girona (ESP), levando-o ao título da Terceira Divisão da Espanha, equivalente ao quarto escalão do futebol no país, na temporada 2005/2006. A conquista abriu as portas do Barcelona, que o contratou para trabalhar com a base em La Masía. No verão europeu de 2007, se encontrou nos corredores do clube com Pep Guardiola, que chegava para assumir o time B do Barça. "Disputaremos a terceira divisão e pensei que, porque você conhece a competição, poderia nos ajudar", disse Pep a Torrent. Em poucos dias, já estavam trabalhando juntos.
Do time B do Barcelona ao Manchester City, Domènec Torrent foi adaptando o seu trabalho dentro da comissão técnica de Guardiola. No clube catalão, ele era o responsável pela análise dos rivais, alimentando Pep com vídeos e informes. O posto de auxiliar imediato pertencia a Tito Vilanova. Após conquistar 14 troféus no comando do time entre 2008 e 2012, Guardiola anunciou sua saída do Barça. Entre a despedida do clube e seu anúncio como novo treinador do Bayern de Munique, em 2013, Pep passou um ano sabático em Nova York.
Torrent, porém, seguiu trabalhando no futebol e acompanhou Tito Vilanova quando o antigo assistente sucedeu Guardiola no comando do Barcelona. Com um câncer na glândula parótida, Vilanova permaneceu apenas uma temporada no Camp Nou. Foi a deixa para que Torrent aceitasse novamente um convite de Pep e refizessem a parceria, dessa vez no Bayern. Na Alemanha, o antes analista passou a ser o auxiliar técnico direto da comissão, responsável pelas estratégias de bola parada e sentando-se ao lado do treinador no banco de reservas durante as partidas.
"Há muitos tipos de assistentes técnicos, mas eu penso que a melhor forma de ajudar o treinador é sendo mais calmo do que ele. Ficar na retaguarda e sempre estar ligado em tudo o que está acontecendo. Às vezes via que um jogador não estava entendendo claramente a nossa ideia, então eu me aproximava dele para tentar explicá-la", disse Domènec Torrent ao site The Coaches Voice.
A mudança a Manchester para comandar o City manteve a dupla no caminho das vitórias. Na Inglaterra, Pep Guardiola conquistou duas vezes a Premier League, a última delas atingindo a marca de 100 pontos na tabela, único time a fazê-lo na história da competição. Torrent trabalhou com Pep durante dez temporadas entre 2007 e 2018. Juntos, levantaram oito taças de ligas nacionais, duas da Champions League, três Mundiais de Clubes e três Supercopas Europeias antes de o auxiliar anunciar ao amigo que assumiria o New York City FC, clube pertencente ao mesmo grupo dono do Manchester City.
Com relação às ideias de jogo, Domènec Torrent gosta do futebol ofensivo tanto quanto Jorge Jesus, mas a concepção de como atacar é diferente da do português. O catalão é adepto, assim como Guardiola, do jogo de posição. Em linhas gerais, esse conceito se baseia no respeito às posições de cada jogador. Eles (os atletas) são responsáveis por criar, desde a saída na defesa, linhas de passe e superioridade numérica no setor onde está a bola, sem desocupar suas zonas de atuação. Apenas no último terço do campo, já na fase de definir as jogadas, é que os atletas têm mais liberdade de movimentação e intuição.
Jorge Jesus permite que seus atletas façam mais trocas de posições, com movimentações em direção à bola e criando combinações até chegarem ao gol. Como na final do Estadual do Rio, contra o Fluminense, quando procurou achar os espaços entre as linhas defesa da equipe tricolor com as trocas de passe à frente da área. Assim saiu o gol de Pedro, na partida de ida.
Com Torrent, imagina-se que os jogadores de ataque sejam mais ortodoxos, especialmente os atacantes pelas pontas, que provavelmente terão de esperar pacientemente a bola chegar até eles.
A partir daí, com a velocidade e a habilidade de atletas como Bruno Henrique, Vitinho e Gabigol, abre-se o caminho para a intuição na hora da definição. Em comum, ambos também gostam da ideia de que seus times recuperem a bola o mais perto possível do gol adversário, além da intenção de jogar com a defesa alta, subindo por vezes até o meio de campo. E a vontade, claro, de fazer o Flamengo vencedor.