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Após 250 mortes, coronavírus ameaça tradição da bocha na Itália

Michele Oliveira - Folhapress
04 mai 2020 às 16:00
- Freepik
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Faz dois meses que o campo de bocha da "viale" Lazio, em Milão, está trancado com cadeado. O espaço público ao ar livre, onde dezenas de homens por volta dos 70 anos costumavam se reunir quase toda tarde, para jogar e conversar, foi fechado assim que os primeiros casos de coronavírus foram confirmados no norte da Itália, uma das regiões mais afetadas do mundo.

Assim também estão os outros 50 campos públicos da cidade, os clubes privados do país e todas as outras atividades ligadas à prática profissional e amadora. Com papel relevante na vida social da terceira idade, não só masculina, a bocha virou uma atividade de risco na Itália.

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"O coronavírus flagelou a nossa federação, sobretudo no norte, onde o impacto foi devastador", disse à Folha de S.Paulo Marco Giunio De Sanctis, presidente da Federação Italiana de Bocha (FIB). Ao menos 250 mortes já foram registradas entre pessoas ligadas à entidade, como dirigentes, técnicos, árbitros e atletas. Entre sócios e quem joga por lazer, é difícil contabilizar, já que o esporte tem quase 100 mil registrados oficialmente e, estima-se, é praticado por 1 milhão de italianos.

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Cerca de 80% dos sócios vivem justamente nas regiões mais afetadas do norte, como Lombardia, Vêneto, Piemonte e Emília-Romanha. Nessa parte do país, os campos de bocha a céu aberto são tão frequentes quanto parquinhos infantis e quadras de basquete. Por todo o país, cerca de 2.000 clubes privados funcionam como pontos de encontro, onde homens e mulheres jogam bocha e cartas.

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"Nesses espaços, quase 90% do público têm mais de 70 anos", diz De Sanctis. "E essa situação pegou todos despreparados. Jamais poderíamos ter imaginado que esse vírus pudesse ser assim tão letal. A bocha pagou um preço alto porque são muitos idosos."


Em cidades como Medicina, na província de Bolonha, um campo de bocha virou epicentro de contaminação, e a área foi declarada pelo governo como "zona vermelha", com restrições ainda mais duras do que o lockdown que vigora desde 9 de março na Itália.

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Praticada desde o Império Romano e trazida para a América do Sul pela imigração italiana, a bocha também tem adeptos no Brasil, especialmente no Sul e no Sudeste. Segundo a Confederação Brasileira de Bocha e Bolão, são cerca de 35 mil jogadores registrados e muitos amadores. "No Rio Grande do Sul, o esporte é o segundo mais popular, após o futebol", diz o presidente Walques Batista.


Como na Itália, os campos estão fechadas no Brasil. As competições foram suspensas. "Na bocha, cada disputa tem cerca de 20 equipes, e cada uma tem até sete pessoas. Só entre atletas são mais de cem participantes. Estamos com tudo suspenso, acompanhando as recomendações do poder público e da OMS (Organização Mundial da Saúde)", diz Batista. "Eu mesmo, que tenho 82 anos, estou em casa."

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Assim também está operando a Federação Paulista de Bocha e Bolão, com cerca de 5.000 atletas e 50 torneios por ano. As cerca de 500 canchas e 140 clubes do estado estão fechados, mas as mortes relacionadas ao coronavírus continuam acontecendo. Segundo o presidente da FPBB, Luis Carlos Leite, ao menos dois atletas na faixa dos 60 anos morreram de Covid-19 e outro está na UTI.


Ainda que os jogadores de ponta tenham, na maioria, até 45 anos, o público presente nas competições é, como na prática amadora, formado por idosos, o que enche de dúvidas o futuro do esporte. Na Itália, mesmo com a quarentena relaxada a partir desta segunda-feira (4), os campos e clubes devem permanecer fechados, e aos idosos será pedido que evitem sair de casa sem necessidade.


É esperado que muitos clubes privados, mantidos em parte pelos recursos de seus bares e restaurantes, não consigam reabrir nunca mais. A federação italiana teme as próprias perdas, sem poder contar com o dinheiro arrecadado com as 10 mil competições anuais que organiza.

A bocha não é um esporte olímpico, mas está presente nos Jogos Paraolímpicos e é considerada um dos mais inclusivos do programa, por permitir a participação de atletas com deficiências mais severas. Para De Sanctis, da federação italiana, o futuro depende de investimentos nos jovens, nas mulheres e no setor paraolímpico. "É um momento de reflexão para todos. É hora de pensar mais em aproximar as pessoas da prática esportiva, pensar menos no esporte de ponta e no alto nível, onde está o dinheiro, mas onde nem sempre tem aquele entusiasmo do esporte social."


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