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Pesquisa do Butantan

Espécie brasileira de cobra-cega tem glândulas de veneno similares às de serpentes

Reinaldo José Lopes - Folhapress
17 jul 2020 às 10:25
- Reprodução/Pixabay
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Talvez não tenha sido um erro tão grande apelidar os anfíbios sem patas de "cobras-cegas", afinal de contas. Pesquisadores do Instituto Butantan descobriram possíveis glândulas de peçonha na base dos dentes de uma espécie do grupo, o que indica que a capacidade de inocular dentes com substâncias tóxicas também surgiu entre as cobras-cegas, tal como se vê nas serpentes verdadeiras.

A equipe, coordenada por Carlos Jared, do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan, acaba de publicar seus achados na revista especializada iScience. A espécie que eles estudaram é a Siphonops annulatus, que mede até 45 cm e pode ser encontrada nas chamadas cabrucas, como são conhecidas as combinações de árvores nativas e cacaueiros do sul da Bahia.

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"Curiosamente, é um bicho bastante dócil. Aliás, é raro que as espécies desse grupo sejam agressivas", contou Jared à Folha de S.Paulo. O grupo de cientistas, que inclui também Marta Maria Antoniazzi (mulher de Jared) e o pesquisador de pós-doutorado Pedro Luiz Mailho-Fontana, acabou se dando conta da existência das glândulas durante estudos sobre as características do crânio da espécie.

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Com efeito, a vida debaixo da terra fez com que essas cobras-cegas, também conhecidas como cecílias, desenvolvessem um conjunto peculiar de adaptações. Assim como acontece com outros anfíbios, sua pele pode produzir tanto muco quanto veneno.

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No caso das cobras-cegas, a equipe do Butantan tinha verificado uma assimetria interessante: as glândulas produtoras de muco são numerosas na região da cabeça, provavelmente porque isso ajuda o animal a "lubrificar" o caminho que vai abrindo pelo subsolo.


Já as glândulas de veneno predominam na região da cauda, o que faz sentido: enquanto a cabeça conta com boca e dentes para se defender, a porção posterior do animal está indefesa diante das mordidas de um predador. Assim, o animal que se aventurar a abocanhar a cobra-cega por trás acaba ingerindo substâncias tóxicas. É o mesmo princípio por trás das glândulas de veneno do sapo-cururu, parente distante dela.

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É importante lembrar, no entanto, a diferença entre veneno e peçonha. Enquanto até uma planta pode ser venenosa, só são considerados peçonhentos os animais que, como as cobras verdadeiras, possuem um sistema para inocular as substâncias tóxicas no organismo das pessoas picadas. Não se imaginava que as cobras-cegas fossem capazes disso, mas os estudos sobre as glândulas dos bichos, tema que é a especialidade de Mailho-Fontana, revelaram um conjunto intrigante de pistas.


Primeiro, tais glândulas estão localizadas na base dos dentes, com dutos que seguem para o interior da boca dos bichos, e não para a pele. Além disso, foi possível analisar bioquimicamente as secreções produzidas nesses locais, e o grupo percebeu que um componente importante delas são proteínas como as fosfolipases A2, que estão presentes na peçonha de outros animais, como serpentes, abelhas e escorpiões (elas estão entre as causas da dor e da inflamação causadas pela picada).

Embora ainda falte estudar em mais detalhes a toxicidade e os efeitos bioquímicos das secreções, Jared diz que é possível comparar o aparato descoberto pela equipe na boca das cobras-cegas com o de certas serpentes verdadeiras, como as corais (gênero Micrurus). "A coral também não tem um sistema muito especializado para inocular o veneno, ao contrário das cascavéis. Para empeçonhar o animal, ela precisa dar uma mascada. Pode ser que isso aconteça com a cobra-cega, e que a secreção também ajuda a lubrificar o dente", compara ele.


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