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Imunidade ao novo coronavírus ainda é pouco compreendida

Reinaldo José Lopes - Folhapress
02 mai 2020 às 15:58
- iStock
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Por enquanto, as tentativas de entender como ficam as defesas do organismo nas pessoas que já se recuperaram da Covid-19 trouxeram mais perguntas do que respostas.

Não está claro nem mesmo se todas as pessoas que sobreviveram ao coronavírus Sars-CoV-2 carregam anticorpos para neutralizá-lo. Mesmo entre aqueles que têm tais anticorpos, não se sabe quanto tempo a proteção vai durar.

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Boa parte dessa incerteza pode ser explicada pelo prisma da teoria da evolução. Embora outros tipos de coronavírus costumem causar formas comuns e brandas de resfriado, o Sars-CoV-2 não tinha nenhum histórico de convivência com a espécie humana, já que acabou de invadir a população global do Homo sapiens vindo de outro hospedeiro.

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Isso significa que nenhum ser humano contava com defesas naturais específicas contra o vírus quando ele começou a infectar pessoas na China, no fim de 2019. "É muito improvável que infecções anteriores causadas pelos outros coronavírus mais comuns confiram algum tipo de proteção. Eles pertencem a grupos tão distantes do Sars-CoV-2 que dificilmente isso aconteceria", explica Fernando

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Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e professor da Universidade Feevale (RS).


Também é preciso levar em conta que a maioria dos casos produz sintomas relativamente leves e recuperação sem complicações. Isso significa que, mesmo antes de conseguir produzir anticorpos -coisa que só acontece alguns dias após o início da doença-, o organismo de muitos consegue começar o contra-ataque ao vírus por outros meios.

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Tal reação é possível porque as células contam com um sistema genérico de reconhecimento dos invasores virais. Um elemento desse sistema é a detecção de RNA (molécula "prima" do DNA que forma o material genético de vírus como Sars-CoV-2) com fita dupla, conta Rômulo Leão Silva Neris, pesquisador visitante da Universidade da Califórnia em Davis.


Em células como as humanas, o normal é que o RNA tenha apenas fita simples. Flagrada essa esquisitice molecular, a célula começa a recrutar moléculas para barrar a replicação (reprodução) do vírus.

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Conforme os dias de doença vão passando, o organismo enfim produz anticorpos específicos contra o vírus -em geral, dois tipos das chamadas imunoglobulinas, designadas com as siglas IgM e IgG.


Quando a infecção é debelada, o "conhecimento" sobre como produzir os anticorpos IgG, os mais duradouros, fica armazenada nas chamadas células B de memória. Ao entrar em contato com o vírus de novo no futuro, essas células podem desencadear a produção de anticorpos, vencendo rapidamente o problema.

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Dois detalhes bagunçam esse cenário relativamente simples no caso do Sars-CoV-2. "Alguns estudos mostraram que entre 20% e 30% dos doentes que se recuperaram não apresentam níveis detectáveis de anticorpos", diz Neris.


De quebra, o que se sabe sobre outros coronavírus sugere que esse subgrupo viral é pouco imunogênico, ou seja, não produz uma resposta tão robusta do sistema de defesa do organismo quanto outros invasores, lembra Spilki.

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Em geral, os coronavírus causadores de resfriados comuns geram imunidade transitória, que se esvai num prazo de cerca de um ano.


Outra possibilidade é que as pessoas que se recuperam da Covid-19 produzam anticorpos, mas que alguns testes tenham sido feitos após a recuperação. Nesse caso, os níveis dessas moléculas estariam muito baixos no organismo e, portanto, mais difíceis de detectar, opina Nayara Pereira, mestranda em imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e membro da iniciativa online Covid Verificado, que checa informações científicas sobre a pandemia.

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Além das dúvidas sobre como o vírus interage com o sistema imunológico, ainda há incerteza sobre a proporção de pessoas cujo organismo teve contato com o Sars-CoV-2.


Por ora, o único consenso é que, mesmo nos lugares mais afetados pela pandemia, a população ainda está muito longe de atingir o que se costuma chamar de imunidade de rebanho -cenário no qual a porcentagem de pessoas que já foram infectadas e se curaram é elevada o suficiente para que sirvam de "escudo" das que ainda não tiveram a doença.


Os resultados preliminares de testes de anticorpos variam, e muitos não foram publicados oficialmente em periódicos científicos, o que pode diminuir sua confiabilidade.


Além disso, os dados divulgados até agora foram obtidos em escala local, e não nacional, e nem sempre dizem respeito a uma amostra de pessoas que seja representativa da população em geral.


O número mais alto até agora veio de Chelsea, subúrbio de Boston (EUA), onde médicos do Hospital Geral de Massachusetts identificaram anticorpos contra Sars-CoV-2 em 31,5% de 200 passantes que doaram sangue em uma esquina.


Uma cidade de 12 mil habitantes na Alemanha, na qual 500 foram testados, teria revelado uma prevalência de anticorpos em 14% da população, enquanto outros lugares da Europa e dos EUA têm números que vão de 1% a 4%.


Já o único estudo amplo realizado no Brasil até agora, coordenado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (RS), estimou que apenas 0,13% da população gaúcha teria desenvolvido anticorpos contra o vírus.


Em testes como esses, é sempre necessário levar em conta os níveis de sensibilidade e especificidade. Um teste muito específico é o que raramente produz falsos positivos (ou seja, identifica a presença da infecção quando, na verdade, ela não ocorreu); já testes muito sensíveis produzem poucos falsos negativos (ou seja, raramente apontam que alguém que teve a infecção na verdade não a teve).

De qualquer modo, outro ponto acerca do qual os cientistas concordam é que não existe nenhuma fórmula mágica para "aumentar a imunidade" -nenhum alimento é capaz de fazer isso sozinho, por exemplo. "O que fortalece a imunidade é um conjunto de fatores: alimentação equilibrada, sono adequado, exercício físico e evitar o estresse, embora na situação atual o último item seja mais difícil", diz a pesquisadora da USP.


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